Hezbollah: uma potência política e militar no Líbano
(AFP) – Há 5 horas
BEIRUTE — O partido islamita xiita Hezbollah, que, junto a seus aliados, abandonou nesta quarta-feira a aliança governamental no Líbano por causa da investigação sobre o assassinato do ex-primeiro-ministro Rafic Hariri, é a principal força militar do país e uma formação política inevitável.
O "Partido de Deus" foi criado por iniciativa dos Guardas da Revolução iraniana, em 1982, depois da invasão do Líbano pelas tropas israelenses.
Israel e Estados Unidos têm-no incluído em suas listas de organizações terroristas e afirmam que recebe armas do Irã através da Síria, seu outro grande aliado regional.
Com esse apoio e um arsenal que Israel estima em milhares de foguetes, o Hezbollah combateu as tropas israelenses até que estas se retiraram do sul do Líbano em 2000, depois de 22 anos de ocupação.
Esse combate, junto a sua sólida rede de ajuda social, transformou-o em força de grande popularidade, sobretudo entre os xiitas, que constituem cerca de 30% da população do Líbano.
De seus comícios participam milhares de ativistas e dispõe de um poderoso serviço de segurança e da própria rede de telecomunicações.
Sua influência política cresceu depois do assassinato de Rafic Hariri em 2005, refletindo-se na aliança de governo com a coalizão pró-ocidental liderada por Saad Hariri, filho do estadista morto.
Mas a tensão se instalou entre os aliados desde julho passado, quando o Hezbollah denunciou a possibilidade de a ONU apontá-lo como responsável pelo assassinato do ex-primeiro-ministro.
O Hezbollah sustenta que seu principal objetivo é combater Israel, pelo que se nega a depor armas, ao contrário de todos os partidos que participaram da guerra civil de 1975-1990.
Depois da guerra com Israel em 2006, o Hezbollah aliou-se politicamento com o governo surgido da maioria antissíria, passo que garantiu a ele, pela primeira vez, postos ministeriais.
Em 2006, sequestrou dois soldados israelenses na fronteira líbano-israelense. O Estado hebreu lançou em represália uma ofensiva devastadora que, no entanto, não conseguiu aniquilar o Hezbollah, que se apresentou em consequência como vencedor do conflito.
Em 2008, durante os confrontos entre seus homens e os de Saad Hariri, o Hezbollah tomou durante dias o setor ocidental de Beirute, de maioria muçulmana, o que serviu a ele para afiançarse como força política.
Seu chefe é o carismático Hasan Nasrallah desde o assassinato em 1992 de Abbas Al Musaui, mostrando-se raramente em público desde a guerra de 2006.
O Hezbollah entrou em 1992 para o parlamento libanês e nas eleições de 2009 obteve 11 das 128 cadeiras.
Nos últimos anos, o partido moderou sua retórica islâmica, afirmando que o estabelecimento de uma República Islâmica só poderia surgir da vontade popular.
Atirador dos EUA mostra perigo de estimular ódio na política
Durante a campanha eleitoral para deputado nos EUA, republicanos do Arizona tinham como lema: "Ajude a tirar Gabrielle Giffords de seu cargo. Dispare um (fuzil) M16 carregado com Jesse Kelly (seu adversário)".
Sábado passado, Jared Lee Loughner, de vinte e três anos, crítico obcecado dos democratas, efetuou aproximadamente vinte disparos, no momento em que a deputada Giffords se reunia com eleitores em um supermercado em Tucson, Arizona.
O saldo da tragédia não tem ainda números fechados: seis mortos, inclusive uma criança, e a própria deputada em estado grave após receber um tiro na cabeça.
Os disparos ecoaram muito além do Arizona. O Congresso norte-americano paralisou suas atividades, no esforço de tentar reduzir o tom do confronto político que, supõe-se, tenha desencadeado a violência.
As maiores atenções da política norte-americana se dirigem ao movimento ultraconservador Tea Party, que tem como um de seus ícones, Sarah Palin, candidata derrotada à vice-presidência pelo partido republicano nas últimas eleições.
É consenso na política americana, a virulência verbal deste movimento ultraconservador, inclusive pelo emprego de tom fortemente acusatório e lastros em questões morais e religiosas.
O estímulo ao ódio está tão presente no país que analistas americanos estão comparando o momento atual à década de 60, quando foram assassinados o presidente John Kennedy, seu irmão, o senador Robert Kennedy e o líder de direitos civis, Martin Luther King.
Mesmo depois da tragédia, Sarah Palin mantinha em seu site as indicações dos principais "alvos a serem abatidos" entre os democratas, mapa que constrangedoramente contava ainda com a figura da deputada democrata do Arizona.
Que a crítica contra a deputada já descambava para a violência, nem era fato desconhecido. O comitê de Giffords havia sido vítima recente de vandalismo e pessoas armadas foram flagradas em seus comícios. Era apenas uma questão de tempo.
É certo que não se pode acusar automaticamente a republicana pela apologia, em razão do infeliz uso da metáfora militar. O desequilíbrio emocional do atirador provavelmente está além das razões do Tea Party.
Mas é evidente que o recrudescimento do discurso estimula e muito a incorporação da violência no cotidiano da política -e este é o grande temor demonstrado pelos norte-americanos nos dias que seguiram à tragédia.
Atiradores a esmo são comuns nos Estados Unidos -e até o momento não parecem ter sido importados pelo Brasil.
Mas a virulência na discussão política não tem nada de desconhecido para nós.
A recente campanha eleitoral brasileira foi recheada da violência verbal típica do Tea Party.
O tom do debate foi de desconstrução, sendo Dilma, em especial, vítima de uma avalanche de correntes de falsos e-mails ofensivos e altamente provocativos. A campanha foi recheada de temas religiosos, estimulando não apenas o preconceito, como também o fanatismo. A hoje presidenta conviveu com a insígnia de "terrorista" por toda a eleição e é comum que assim ainda seja chamada em mensagens digitais.
Tanto radicalismo não se mostrou inócuo.
Após a eleição, um surto de mensagens virais no Twitter estimulava o ódio regional, apontando-se o nordestino como culpado pela vitória de Dilma, com base em imprecisas interpretações dos resultados eleitorais.
A xenofobia ressuscitou, inclusive, um movimento antimigratório que pouco fica devendo à causa hitlerista - São Paulo para os Paulistas.
Coincidentemente, as ameaças à deputada democrata americana chegaram ao auge justamente quando ela se opôs com vigor à lei do Arizona, que passou a tratar o imigrante ilegal como um criminoso.
É fato que a xenofobia tem sido prato indispensável do cardápio de quase todos os partidos conservadores mundo afora.
Mas os paralelos não param aí.
O jornalista americano Mark Weisbrot, em artigo publicado na Folha de S. Paulo durante a campanha eleitoral, comparava a estratégia tucana, que abandonou a discussão econômica para se centrar em temas religiosos, como uma frustrada importação das táticas recentes dos republicanos nos EUA.
O cipoal de mensagens no Twitter no dia da posse, estimulando que um "atirador de elite" matasse Dilma Roussef, pode indicar que os subprodutos do terrorismo eleitoral também vieram na bagagem.
O clima apocalíptico exposto durante a campanha, a violência verbal que ultrapassou em muitos graus a divergência política, a criação de inimigos a serem abatidos ou eliminados, vem sendo apropriados por quem pretende transformar a política em guerra.
O terrorismo eleitoral sempre apresenta a eleição como uma antecâmera do fim do mundo, insuflando e mobilizando o desespero alheio.
A virulência das manifestações nas redes sociais não é apenas um sintoma de acirrada disputa política, que faz bem a toda democracia. Mas da substituição do debate pela agressão, do argumento pela desqualificação, da dialética pelo xingamento, características marcantes do que já se universalizou como "troller" -aquele que propositadamente puxa a discussão para baixo, fazendo com que a confusão a anule.
Quando a discussão é substituída pela ofensa rasteira, quando a disputa eleitoral é incorporada no discurso militar, quando o medo é o argumento central da política, a violência dificilmente deixa de ser parceira.
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BC da China diz que política ‘prudente’ vai conter a inflação
Em dezembro, a taxa básica de juros chinesa foi elevada pela segunda vez em três anos
Renato Martins, da Agência Estado
LONDRES - O vice-presidente do Banco do Povo da China (PBoC, o banco central), Yi Gang, disse que seu país poderá lidar com a inflação ao adotar uma política monetária "prudente". Nos últimos meses, o PBoC mudou sua política monetária de uma posição que descrevia como "moderadamente frouxa" para "prudente", em um esforço para conter a alta dos preços. Em dezembro, a taxa básica de juros foi elevada pela segunda vez em três anos.
Yi é parte de uma delegação liderada pelo vice-primeiro-ministro Li Keqiang que está fazendo um giro de nove dias pela Europa. Li é cotado para ser o próximo primeiro-ministro da China, a partir de 2012. As informações são da Dow Jones.
Irã faz protesto contra crítica de Dilma
Em telefonema à embaixada brasileira no país, governo de Ahmadinejad expõe mal-estar com declarações de autoridades da nova administração sobre a política de direitos humanos de Teerã; após o segundo turno, presidente condenou apedrejamento
Patrícia Campos Mello e Jamil Chade - O Estado de S.Paulo
O governo iraniano registrou um protesto contra as críticas do governo Dilma Rousseff à situação dos direitos humanos no Irã, num primeiro sinal de mal-estar entre os dois países, após anos de ótimas relações.
Em telegrama diplomático a cujo conteúdo o Estado teve acesso, com data de anteontem, diplomatas brasileiros em Teerã relatam que um assessor especial do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, telefonou para o embaixador brasileiro no Irã, Antonio Salgado, para se queixar. O assessor "transmitiu o incômodo de Teerã com as repetidas referências à situação dos direitos humanos no Irã, feitas por autoridades brasileiras". Segundo o telegrama, o assessor iraniano teria pedido ao embaixador que informasse o Itamaraty sobre o desconforto.
O Brasil, que antes adotava a posição de não condenar violações aos direitos humanos no Irã, mudou a posição com Dilma. Em entrevista ao jornal Washington Post, em 18 de novembro, Dilma criticou o comportamento do Brasil na ONU, ao abster-se de votar uma condenação às violações de direitos humanos no Irã. "Não concordo com o modo como o Brasil votou. Não é a minha posição", afirmou Dilma, mencionando "práticas medievais aplicadas quando se trata de mulheres". "Ficaria desconfortável, como uma mulher eleita presidente, em não me manifestar contra o apedrejamento", disse ela, referindo-se à condenação da iraniana Sakineh Ashtiani à morte por apedrejamento.
Em entrevista à revista Veja, publicada no domingo, o chanceler Antonio Patriota foi na mesma linha. "A questão da ameaça de apedrejamento da iraniana obviamente vai contra tudo o que nós representamos", disse Patriota. "Acho que vai haver uma reflexão interna sobre essa questão dos direitos humanos."
O protesto do governo iraniano é a primeira consequência formal da mudança de direção da política externa brasileira em relação ao Irã. O governo Lula foi marcado por uma posição de não intervenção nas questões que envolvem o país. Ele comparou os tumultos que se seguiram à eleição iraniana em 2009, quando centenas de iranianos foram detidos e agredidos por agentes do regime, a uma "briga de torcida" - não passaram de "uma coisa entre flamenguistas e vascaínos", disse Lula. Instado a protestar contra a condenação de Sakineh, Lula afirmou: "É preciso tomar muito cuidado porque as pessoas têm leis e regras. Se começarem a desobedecer às leis deles para atender aos pedidos dos presidentes, daqui a pouco há uma avacalhação." Depois, ofereceu asilo à iraniana, dizendo: "Se minha amizade e afeição pelo presidente do Irã são importantes e se essa mulher está causando problemas lá, nós a acolheremos aqui no Brasil." E o Itamaraty tradicionalmente se abstinha nas votações no Conselho de Direitos Humanos da ONU.
Tanto a diplomacia brasileira quanto assessores do governo evitaram nos últimos dias a falar sobre o assunto. No Itamaraty, diplomatas chegaram a negar a existência do comunicado, enquanto outros simplesmente afirmavam "desconhecer" a existência da ligação telefônica. O ministro Tovar Nunes, assessor do chanceler Antonio Patriota, afirmou ser "natural" essa comunicação entre as chancelarias. "Nosso diálogo é fluido, somos sensíveis às preocupações dos países, mas também temos nossas posições, manifestadas de forma clara", disse Tovar. "Não há mal estar nenhum."
Mas não é a primeira vez que um descompasso é explicitado na relação bilateral. Em fevereiro de 2010, o Estado publicou com exclusividade o conteúdo de um telegrama do Itamaraty sobre a situação de direitos humanos no Irã. O telegrama relatava um encontro realizado entre a embaixadora Vera Machado, a então subsecretária de Assuntos Políticos, e o embaixador do Irã em Brasília, Mohsen Shaterzadeh. Durante a reunião, a embaixadora ressaltou o fato de que a aproximação entre o Irã e o Brasil estaria sendo criticada pela "imprensa conservadora" do País. O apelo feito por ela era para alertar os iranianos sobre a situação dos direitos humanos, principalmente a situação da população Bahai, discriminada pelo regime de Teerã.
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